sábado, 22 de agosto de 2009

Lesbecause

Let me see se apre(e)ndi
A língua da mulher gay
Deixe-me ver se (ab)sorvi
O tal do verbo to say:
Seio you, seio me, seio we
Lesbecause let me see
Em junho tem happy day
Por causa das lesbianas
Agora sou poliglota
Lésbicas ou pubianas
Já não as acho idiotas
Os lábios roçam as bocas
As bocas parecem loucas
Sedentas, mudam de rotas
Por causa das lesbianas
Surge a visibilidade
Algumas moças insanas
Se exibem com vaidade
Fazem manifestação
Mostram peito e coração
Se alastram pela cidade
Por causa das lesbianas
As feministas ampliam
A pauta das veteranas
Sussurram, berram e miam
Dizem “mulher com mulher”
E já não dá jacaré
Como muitos presumiam
Por causa das lesbianas
As línguas se entrelaçam
As bocas se chamam xanas
As xanas se chamam rachas
As rachas se chamam girls
Garotas chupam freegels
Free girls chupam muchachas
Por causa das lesbianas
Na ponta da lingua vem
Umas palavras sacanas
E um jeito de querer bem
Um dedo de prosa boa
Uma mão boba, à toa
Que move como ninguém
Por causa das lesbianas
É feita a tal discussão
Se Marias vão com Anãs
Por que chamar sapatão?
Preconceito dê no pé!!
O chato é ter chulé
Amor não faz calo, não
Por causa das lesbianas
A luta por igualdade
Impõe teses mais humanas
Requer a diversidade
Só a sociedade viva
Não hetero-normativa
Permite a felicidade
Por causa das lesbianas
Fala-se de peito aberto
Bonecas de porcelana
Não se pode ver de perto
Quanta historia mal contada
Quanta mulher mal amada
Por causa “do jeito certo”
Por causa das lesbianas
La vulva! Esquerda! Volver!
Enganam-nos qual iguanas
Estranha e dócil: por quê?
“Tímida e espalhafatosa”
Exposta e misteriosa
Na seca aprende a chover
Por causa das lesbianas
Minh’arte usa outro tom
Qual as culturas ciganas
Que exibem múltiplo som
Profanamente sagradas
Linguagens são agregadas
Colando lábio e batom
Por causa das lesbianas
Nem só a cultura é oral
Abaixo as falas tiranas
“Pedra é pedra, pau é pau”
Não “é o fim do caminho”
Lesco-lesco e roçadinho
Sugerem outro final
Por causa das lesbianas
As “águas de março” vêm
Lavadas pelas baianas
Do jeito que só faz bem
No oito do mês de festa
Abra-se mais que uma fresta
Pra Ela falar também
Por causa das lesbianas
Escrevo mais um cordel
Dedicado às Fulanas
Com registro em papel
Exorto-as a amar
Bem como a comemorar
A vida embaixo do Céu
Em face da Lesbecause
Falo em direitos iguais
Não só pra mexer no mouse
(Mas pra fazer muito mais)
É que se fez nossa mão
Nossa boca e coração
Nossa língua e nossos ais
Em nome da causa delas
Façamos uma Parada
Pra expor nas janelas
Em letras arroxeadas:
Nenhum direito a mais!
A menos também jamais!
Esta é a grande sacada!
Autoria de Salete Maria, poeta cearense. (http://www.cordelirando.blogspot.com/)
p.s: Esse cordel era pra ser postado na semana da visibilidade lésbica, em comemoração ao dia 29 de agosto, portanto não me lembro o que houve que apenas ficou aqui salvo em rascunho. Entre uma futucada e outra aqui no blog eu encontrei-o, pois bem... postado! (01/10/20090

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Raulzito In Memória


O carimbador maluco; o guru; o carpinteiro do universo; o esquizofrênico; a mosca na sopa; a metamorfose ambulante; o início, o fim e o meio... ele mesmo, Raul Seixas, o maluco beleza, completa hoje duas décadas de morte e essa data nos faz lembrar da sua importância imensurável para a história da música brasileira ou para entrada da mitologia musical (tenho a certeza do quanto ele se orgulharaia de ser chamado de mito, rs).

Eu conheci Raul quando tinha 7 anos. Ele não sei. Fomos apresentados, eu e os seus trabalhos, por meu pai. Foi paixão a primeira vista. Tenho ainda na memória fresca, que como toda criança sempre fui questionadora e quase nunca minhas inquietações eram respondidas, até que um dia eu enchi meu pai de perguntas sobre a morte (não me recordo exatamente quais), porém tenho na mente que esse assunto me deixou intrigada porque até então eu não me conformava com a morte de meu tio (nessa época ele tinha 2 anos de morto, e eu era super apegada a ele). Foi então que meu pai se levantou, pensei até que fosse me ignorar, e então ele foi até o aparelho de som e me disse: "se concentre e ouça essa música", foi a canção "Trem das Sete", eu poderia até já ter uvido alguma outra canção de Raul antes, mas foi esta que me marcou como a primeira. E então depois que a canção terminou ele me indagou: - O que vc entendeu? - Que o trem tá chegando, respondi. Ele riu. Ah, tem tanta psicologia nesta letra que a cada vez que ouço percebo algo novo, diferente. Então ele pôs "Canto para minha morte" e eu fiquei mais satisfeita e mais medrosa, rs.
Não nego, a morte é um assunto do qual tenho muito interesse e gasto muito tempo refletindo em o que posso fazer antes de morrer. Eu passei um bom tempo procurando respostas para esse assunto tão misterioso e desconhecido, fui dos conceitos mais "primitivos" aos mais "avançados", mergulhei em mares de mitos, crenças, ideologias, ciências, e desisti de encontrar uma resposta e muito menos compreensão. Me satisfaço na simples idéia de que faz parte do ciclo da vida. E de que é a despedida. Mas como disse eu penso tanto na morte, não porque morremos ou para onde vamos, mas no fato de ser algo destrutivo, sei lá, é tão caro manter-se viva e tão barato morrer.

Não que eu tenha medo de morrer. Tenho mesmo é medo de não-viver e mais ainda: de não ter o direito de gozar sequer da juventude. Queria poder superar esse destino trágico, esta fatalidade. Que Raulzito superou.

E eu, enquanto raulseixista me orgulho de ter existido um homem como ele, meu conterrâneo, homem nordestino de bom gosto e de bom senso, bom filho, bom pai, bom humano, "nem cantor, nem compositor" como ele mesmo se intitulou, mas concerteza bom músico e político. Que superou as dificuldades e muralhas da vida (a morte, talvez a maior delas) e continua vivo nas suas filha(o)s, em nós, em mim.

Toca, Raul!!!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

"Primeiro, as pétalas; depois, os espinhos."

Em muitos momentos e por muitas vezes já ouvi alguém dizendo para mim ou para outrem (ás vezes até para si): "primeiro vem as pétalas, depois os espinhos" , ou "no começo tudo é um mar de rosa", ou ainda algo do tipo. Bem, eu vejo então que as pessoas acreditam bem mais no fim do que supõe, na predestinação, na receita única de fazer relacionamentos, aceitam a vida "como ela é", portanto acomodar-se é a alternativa mais fácil e confortável.
Mas esse post não é para negar o dito popular "primeiro as pétalas, depois os espinhos", é justamente para afirmá-lo, é a mais pura verdade. Pois?! Porque primeiro conhecemos as qualidades da outra - pessoa- , as virtudes, os hobbies, e apenas com a convivência (esse exercício árduo) é que vamos conhecendo a parte que nos foi omitida (e que omitimos, pois é certo que fazemos o mesmo), os defeitos, os vícios, os desgostos... e isso pode ser frustrante, pois buscamos na outra a perfeição, o que nos falta, uma pureza que não existe. E os conflitos começam quando não aceitamos as imperfeições alheias, quando negamos a outra pessoa, quando nos desencantamos (porque caí aquele holograma que criamos do homem ou da mulher perfeita) e todo e qualquer motivo por menor que seja é um motivo de rompimento, ou "já tô vendo que isso não vai dar certo", ou ainda "ela não era nada do que pensei".
E ela poderia ser o que pensei? E eu quem sou?! É fato que conhecer é uma vivência, e precisa de tempo, de momentos. Eu conheço primeiro o presente dela, me insiro nos seus planos, sonhos e anseios futuros, e ouço o seu passado...
Então ao conhecer viramos o ciclo do nosso tempo (vida) de ponta a pé: presente, futuro e passado. Por que seria diferente com as rosas? Bem, essa é a parte que queria chegar, o real motivo que me fez escrever esse texto. Por que seria diferente com as rosas?
Primeiro vem as pétalas que representa toda a beleza e imagem da flor; depois os espinhos que representa as dificuldades, os empecilhos, e isso fere, machuca, nos faz provar o gosto amargo do mel (o fel), porém os espinhos não representam o fim, é só mais uma parte da flor, uma fase de preparamento para chegarmos à raíz que é onde está toda a plenitude, a vida, a essência da flor, é de onde vem as pétalas, o cheiro, as cores, a imagem... a beleza.
Parar nos espinhos não é uma atitude inteligente e nem corajosa, é uma demonstração de acômodo, preguiça, menosprezo. Quero ir além... sentir os espinhos perfurar nossas peles, almas, e nos fazer mais humanas ("pois o homem é o exercício que faz", como disse Raul) e juntamente com você (a quem eu escolhi para amar) alcançar a plenitude da vida.
Flores em vida para nós! E que cada espinho represente um desafio superado, uma conquista! E que cada pétala seja nossa recompensa, prêmio!