sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Raulzito In Memória


O carimbador maluco; o guru; o carpinteiro do universo; o esquizofrênico; a mosca na sopa; a metamorfose ambulante; o início, o fim e o meio... ele mesmo, Raul Seixas, o maluco beleza, completa hoje duas décadas de morte e essa data nos faz lembrar da sua importância imensurável para a história da música brasileira ou para entrada da mitologia musical (tenho a certeza do quanto ele se orgulharaia de ser chamado de mito, rs).

Eu conheci Raul quando tinha 7 anos. Ele não sei. Fomos apresentados, eu e os seus trabalhos, por meu pai. Foi paixão a primeira vista. Tenho ainda na memória fresca, que como toda criança sempre fui questionadora e quase nunca minhas inquietações eram respondidas, até que um dia eu enchi meu pai de perguntas sobre a morte (não me recordo exatamente quais), porém tenho na mente que esse assunto me deixou intrigada porque até então eu não me conformava com a morte de meu tio (nessa época ele tinha 2 anos de morto, e eu era super apegada a ele). Foi então que meu pai se levantou, pensei até que fosse me ignorar, e então ele foi até o aparelho de som e me disse: "se concentre e ouça essa música", foi a canção "Trem das Sete", eu poderia até já ter uvido alguma outra canção de Raul antes, mas foi esta que me marcou como a primeira. E então depois que a canção terminou ele me indagou: - O que vc entendeu? - Que o trem tá chegando, respondi. Ele riu. Ah, tem tanta psicologia nesta letra que a cada vez que ouço percebo algo novo, diferente. Então ele pôs "Canto para minha morte" e eu fiquei mais satisfeita e mais medrosa, rs.
Não nego, a morte é um assunto do qual tenho muito interesse e gasto muito tempo refletindo em o que posso fazer antes de morrer. Eu passei um bom tempo procurando respostas para esse assunto tão misterioso e desconhecido, fui dos conceitos mais "primitivos" aos mais "avançados", mergulhei em mares de mitos, crenças, ideologias, ciências, e desisti de encontrar uma resposta e muito menos compreensão. Me satisfaço na simples idéia de que faz parte do ciclo da vida. E de que é a despedida. Mas como disse eu penso tanto na morte, não porque morremos ou para onde vamos, mas no fato de ser algo destrutivo, sei lá, é tão caro manter-se viva e tão barato morrer.

Não que eu tenha medo de morrer. Tenho mesmo é medo de não-viver e mais ainda: de não ter o direito de gozar sequer da juventude. Queria poder superar esse destino trágico, esta fatalidade. Que Raulzito superou.

E eu, enquanto raulseixista me orgulho de ter existido um homem como ele, meu conterrâneo, homem nordestino de bom gosto e de bom senso, bom filho, bom pai, bom humano, "nem cantor, nem compositor" como ele mesmo se intitulou, mas concerteza bom músico e político. Que superou as dificuldades e muralhas da vida (a morte, talvez a maior delas) e continua vivo nas suas filha(o)s, em nós, em mim.

Toca, Raul!!!

2 comentários:

Reinaldo Sousa disse...

Raul Seixas, eu não tenho boas recordações dele. Aliás, foi na minha infancia que também o conheci. Lembro muito bem, como se fosse hoje, minha mãe acordando na madrugada para ir trabalhar lá em Guarulhos(São Paulo), e como tenho dificuldae para voltar a dormir, quando sou acordado, ficava observando as sombras e as luzes entrando pela janela. Isso era corriqueiro. Num certo dia, chovia muito, e como de sempre, fiquei acordado, olhando as sombras que se formavam com os relampejos, quando uma voz gritante, com um som metal estrondou, fiquei apavorado, e as sombras corriam pelo quarto, e o som não parava... Raul cantava em comemoração ao niver de São Paulo. Eu nunca me esqueci disso, e até hoje não gosto muito de ouvir suas musicas, as sombras do seu som me persegue.

Ah, logo depois de Raul, entrou no palco Ney Matogrosso, nem preciso falar nada né? rsrsrs

L.Gris disse...

Risos.
Ah, agora entendi pq não tens boas recordações deles,rs.